O Ceará encalhou geral. As manchetes destacam a falta de gás, energia e segurança no Ceará. Só isso!
Um Estado que já vinha estagnado agora começa a ver que o casco rachou, a água entrou e a luz apagou. As chances de desencalhar vão ficando cada vez menores ao longo do tempo. Quem vai investir em um Estado onde a insegurança pública e energética permeiam o ambiente de negócios? Com a vida e o patrimônio em risco permanente diante da violência, agora incorpora-se com força um risco econômico bem elevado para o capital privado. Risco de taxas de retorno negativas, sobre os investimentos, significa desinvestimento. Desta forma, não conseguimos avançar nem muito menos dar o salto prometido. Nosso caduco modelo de desenvolvimento, perseguido desde o “governo das mudanças” não apenas não funcionou como impôs a continuação do nosso secular quadro de pobreza e desigualdade. Mas alguém prosperou certamente com esse modelo, segundo os índices de concentração de renda.
Ser empreendedor no Estado do Ceará vem se tornando um desafio cada vez mais complexo e desafiador. O que as estatísticas revelam mesmo é que o que cresce no Estado é o número de MEI’s (microempreendedores individuais). O pipoqueiro, catador, vendedor de coco e até flanelinhas que passam a ser pessoas jurídicas, afinal, até para atuar na economia de subsistência é preciso se modernizar. Até os pedintes nos sinais já aceitam PIX. Mas quando o assunto se relaciona a projetos estruturantes capazes de gerar ocupação e renda de qualidade, o que se observa é um deserto de realizações e um mar de intenções, protocolos de intenções assinados pela galera ansiosa do governo.
A situação do capital privado que apostou no estado é tão esdrúxula que a empresa privada de maior faturamento quer, simplesmente, ir embora. Quer vender a operação, colocar a viola no saco e cair fora. A ENEL, antiga COELCE, responsável pela distribuição de energia no Estado, tenta encontrar alguém que a compre, contudo, até agora, sem sucesso. Como uma multinacional com um faturamento bruto superior a R$ 12 bilhões, lucro anual de mais de R$ 640 milhões e com mais de 4 milhões de clientes no Estado decide partir? Certamente não é pelo fato de ter faltado luz em algumas praias lotadas no último réveillon. Sempre bom relembrar o caos na prestação desse serviço no tempo da COELCE, um cabide de bons empregos a disposição dos governantes da vez. Nessa equação do abandono do mercado cearense devem existir fortes razões envolvendo o ambiente de negócios.
Sendo assim, tentou o governo transformar o Ceará em uma potência industrial, visto o modelo mental de quem começou isso tudo, mas o que somos mesmo é uma economia de serviços onde a renda majoritariamente advém dos cofres públicos, seja o federal, o estadual ou o municipal. Nossa modesta economia depende visceralmente do Bolsa Família. Faz tempo que somos um estado socialista onde o setor público é o principal empresário. Um empresário ineficiente, “inquebrável”, que só arrecada e gasta mal o dinheiro público. Somos, além de pobres, perdulários.
No início faltou lucidez, depois faltou mesmo foi gás e energia para corrigir os rumos e evitar o triste contexto social em que vivemos. Lutemos não mais por nós mesmos, mas sim por nossas filhas e netas que tentarão viver em paz neste belo pedaço do território brasileiro.