Afora a piada picante usada para distinguir a diferença entre “Potencialmente e Realmente”, a qual não ouso transcrever, temos o nosso Estado do Ceará para ser tomado como exemplo da diferença entre essas duas palavras.
Desde o século passado que a plateia assiste alguns dinossauros do Governo do Estado anunciarem que temos potencial para isso e aquilo e que seremos um Estado próspero economicamente e justo socialmente. Essas figuras nos enganam há quase 40 anos. Antes afirmavam que seríamos uma Coreia do Sul , ou seja um tigre asiático das indústrias. Que seríamos um Vale do Silício Californiano, da tecnologia. Que seríamos uma Atlanta/USA com nosso finado HUB Aéreo. Que seríamos um Polo de óleo e gás com a refinaria. Que seríamos uma Detroit/USA com nosso Polo automotivo. Que seríamos uma Roterdã holandesa com nosso Porto e HUB Logístico. Que seríamos uma Flórida/USA com nosso Turismo, etc. etc.
Essas mesmas figuras agora anunciam nosso novo “potencial” para sermos uma “Arábia Saudita do Hidrogênio Verde (H2V)”. Outra vez, anunciam memorandos de entendimentos prévios aos bilhões de dólares que seriam investidos por conglomerados globais de energia e mineração. Óbvio, a claquete para-governamental estampa a manchete do suposto feito relevante em um futuro que, caso não seja mais uma balela turbinada, não estarão aqui para ver e gozar dos benefícios sociais que aguardamos desde que nos entendemos como gente. Afinal, como registrou o economista John Maynard Keynes, “no longo prazo estaremos todos mortos”, sem embargos de políticas econômicas de longo prazo.
Os cearense precisam sentir na pele os resultados efetivos dessa falação toda na forma de qualidade de suas vidas e no grau de cidadania que a atuação do Governo do Estado poderia proporcionar. Temos potencialidades desde a época de Martim Soares Moreno mas nossa atual realidade é de atraso, pobreza e mortes, sejam matadas ou morridas. O Ceará da violência e o Ceará das pandemias e endemias suplantando o Ceará das oportunidades e potencialidades. Isto não é admissível. Um Estado que já poderia contabilizar indicadores sociais muito mais evoluídos se tivesse feito as opções econômicas corretas segue atolado em seu drama social agora agravado pela Pandemia.
Com o Comércio, Serviços e Turismo, o principal segmento de sua economia, duramente atingido pela Pandemia, o desemprego, a indigência e a perambulancia tomou conta das esquinas das elites que, também afetadas, tentam manter seus negócios respirando.
Não será pela capacidade de investimento do setor público (Governo do Estado), na casa dos 10% da receita líquida de um orçamento anual muito modesto, que o crescimento econômico e a inclusão social serão alcançados. Sabemos também que a qualidade do gasto público é deplorável. O dinheiro público que sobra para investimentos termina sendo alocado em mamutes sem qualquer vínculo com a indução do real desenvolvimento econômico almejado, vide o Aquário, Centro de Formação Olimpica(CFO), Centro Eventos do Ceará( CEC), etc. Sem a força do capital privado investindo não será possível explorar essas Potencialidades do discurso chapa branca. Não será em um Estado em que todos estão de alguma forma pendurados no erário que vamos demitir o atraso. Sem estruturar o Estado para tornar-se atrativo ao capital privado ficaremos apenas no sonho das potencialidades. Sem um novo e lúcido modelo de desenvolvimento econômico capaz de conferir competitividade ao ambiente econômico do Estado continuaremos como um dos lanternas do ranking de desembarque de investidores nacionais e internacionais.
Enquanto nossa realidade continua cruel e nossos africanos indicadores persistem, preferimos fazer política, puxa saquismo, tapinhas nas costas e permanecer empurrando a sujeira para debaixo do tapete. Contudo, em meio a tragédia do assassinato em massa da COVID e agora eternamente privados de entes queridos, abatidos pela incompetência concorrente dos governos, eis que surge em muitos a coragem que faltava para classificar de demagogos inconsequentes esses incompetentes inconscientes que vem impondo tanta pobreza a esse povo bom, bobo, ingênuo e bem humorado.
O Ceará precisa mais do curto prazo que do longo prazo. Plantar agora para colher o mais rápido possível. Não temos mais tempo para ficar aguardando o futuro. Nossas crianças estão nas ruas, flageladas e pedindo….pedindo. Precisam do básico de uma cidanania antes que deixem de pedir e comecema tomar. Dizem que o homem é capaz de se acostumar até com a fome e o sofrimento e achar que é essa a vida que Deus lhe reservou nesta terra. Não podemos concordar com isso. Deus não quer isso para ninguém, muito menos para os Cearenses.
