Totó traiu os antigos coronéis, Tasso traiu Totó, Ciro traiu Tasso que, juntos, traíram Lúcio. Por que Camilo não pode trair essa turma toda? Muitos ainda não entenderam a importância do Camilo para a nova dinâmica da política cearense. Após oito anos no governo do estado, em uma gestão insossa e dedicada a resolução das excentricidades de seu antecessor, e sob o patrocínio entusiasmado dos donos dos currais eleitorais interioranos, Camilo fez o que Roberto Cláudio poderia ter feito, não fez e virou pó eleitoral. Constatando que o clã FG se apropriava indevidamente da enorme força eleitoral do Lula no Ceará, auferindo enormes dividendos nas urnas, decidiu que era hora de confrontar essa situação e devolver o rio ao seu leito natural, o PT cearense. Afinal, o oligarca dos Ferreira Gomes sempre foi um dínamo verbal a atacar o Lula e o PT, além de ter traído também a professora Izolda em sua pretensão de se reeleger. Quem não se lembra do Cid cirista gritando “Lula tá preso, babaca! “.
Manobrando no cipoal das múltiplas lideranças petista no Estado, elegeu Elmano na nova onda Lula/22, se elegeu senador, virou super-ministro de Lula e mostrou seus músculos aos recém-demitidos “donos dos votos”. Como sobremesa, incorporou ao seu patrimônio político o PSB dos pernambucanos descendentes do cearense Miguel Arraes, colocando seu pai, um histórico e articulado petista, para cuidar da sigla e ainda autorizou o check-in da enorme trupe de políticos expelidos pelo PDT cirista. Xeque-mate!
Sendo assim, eis que nasce uma nova estrela eleitoral e política da mesmíssima forma como aconteceu no decorrer da longa era Tasso/Ciro que, em 40 anos de uma união nem sempre estável, mas sempre no poder, não conseguiram retirar o Ceará da pobreza, da violência e do declínio econômico.
Nessa trairagem sem fim até o Cid traiu o Ciro, constatando que o Titanic eleitoral da família bateu em um enorme iceberg vermelho e o fundo do mar da falta de mandato era uma questão de tempo. Logo, tratou de subir no bote do novo comandante Camilo, seu amigo e ex-subordinado, para tentar sobreviver. Sendo assim, ponto para Camilo que ousou trair traíras contumazes e hoje representa uma nova inflexão da política cearense.
Todos sabem que no Ceará, assim como no Nordeste, com exceções, quem influencia fortemente a eleição de governador e senador é o candidato à presidência da república, especialmente se for o Lula. Quem lembra de Lula elegendo Eunício e Pimentel ao Senado e deixando Tasso de pijama, que só voltou ao Senado após ser novamente incensado por quem gerenciava a força de Lula no estado? Agora, Lula elege os puros sangues petistas da chapa Lula/Camilo/Elmano, coloca Ciro com míseros 3% na corrida presidencial e pífio terceiro lugar no Ceará, enterrando-o de vez, e faz de Camilo o novo latifundiário dos votos do Sertão muito pobre do Ceará, tomando o mercado cativo dos novos e irados coronéis sem patente.
Bem, mas esse feito foi em 2022. Estamos em 2024 e teremos novas eleições, agora municipais. Lula, Camilo e Elmano agora são governo e, portanto, oscilando forte na gangorra da aprovação/desaprovação. Como estará a popularidade do seu “Ás” no pôquer eleitoral de outubro próximo? Parece que Camilo vem fazendo muito bem seu dever de casa ampliando suas alianças indexadas a Lula, o elemento central do jogo. Se o oceano de pobres do Ceará tiverem a percepção de que suas vidas melhoraram nesta gestão Lula, Elmano & Cia. Camilo consolida sua liderança eleitoral e vai nadar de braçada na piscina do Abolição, terceirizada por ele a Elmano. Caso contrário, em que a popularidade de Lula derreta, a hegemonia camiliana pode sofrer baixas. Portanto, a eleição de Fortaleza será estratégica para todos os lados, principalmente para os velhos traidores que só possuem esse território relevante sob domínio no tabuleiro do poder. Se perderem, é pijama para os dois e ostracismo para os outros dois e se ganharem continuam na UTI, mas sonhando com o Governo do Estado.
Imaginemos agora se os resultados da gestão Elmano, principalmente na segurança, educação, saúde, emprego e renda fossem excelentes, adicionando os efeitos da gestão Lula com o bolsa família, controle da inflação, redução de juros, menor desemprego, etc., afinal o que ganha eleição é economia e dinheiro no bolso do pobre. Aí, não tinha para ninguém. Portanto, vamos deixar de lenga-lenga, afinal, quem não quer ser traído não nasça, não case e muito menos entre para a política, cuja traição, ou arranjos eleitorais, é uma constante dessa equação. Por essa traição Camilo tem 100 anos de perdão.
