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A EDUCAÇÃO “MADE IN CEARÁ”

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Há quantos anos assistimos o governo do estado do Ceará celebrar que as melhores escolas públicas do país estão espalhadas por seus municípios? Há quanto tempo as manchetes exaltam o Ceará como exemplo de educação básica e pública? É natural que qualquer político que vire gestor público trate de reverberar esse suposto feito relevante, afinal quem está a dizer isso é a métrica do IDEB, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica e não eles. Na medida em que tal métrica vai subindo na escala dos níveis de ensino, do fundamental para o médio e deste para o superior, então tem-se uma visão mais nítida, desapaixonada e menos midiática do tamanho da Ilusão da educação do Ceará e, de resto, de todo o Nordeste do Brasil.


Afinal, que Educação é essa que não serve sequer para mexer os ponteiros dos indicadores sociais? Por que essa Educação toda não reduz nossos índices de pobreza, de violência e muito menos o histórico e enorme gap diante dos existentes na região sul e sudeste? Todos sabem que o elemento comum nos países e regiões socialmente evoluídas é exatamente a qualidade da educação. Os analistas e especialistas no tema são categóricos ao afirmar que USA, Europa, Japão, etc. são o que são em face de séculos de investimentos exitosos em suas instituições de ensino. Educação levada a sério seria o antídoto contra o atraso, pobreza e subdesenvolvimento. Sendo assim, quais as razões para o retardo do Ceará e do Nordeste do Brasil diante do próprio Brasil e do Brasil diante dessas outras nações bem mais evoluídas? Que paradoxo é esse que tanto inquieta o futuro das novas gerações, mas que muitos estudiosos já conseguem responder com muita lucidez? Quais são os componentes da fórmula do bem-estar social? Basta olhar para Dinamarca, Holanda, Suíça, etc. para entender que o legado cultural armazenado ao longo de séculos de história associado a uma educação de performance internacional e a instituições sólidas são capazes de levar um país a ser desenvolvido, justo e bom para seus habitantes? Essas são variáveis, digo, constantes da fórmula do sucesso das sociedades que deram certo e que adoramos visitar nas férias.

Não precisa ser nenhum especialista em bolas de cristal para antever que essa educação made in Sobral não serve aos anseios evolutivos que nutrimos para um futuro que nunca chega nem chegará, se continuamos a nos enganar coletivamente. Esse ranking do IDEB se assemelha aquele diagnóstico do médico otimista que afirma que sua metástase se estabilizou e, portanto, morrerás não nesta, mas possivelmente nas próximas semanas.

Quando o assunto migra para a educação privada cearense, logo os políticos  se assenhoram da garra da  garotada fera e dos méritos de escolas privadas e dos pouquíssimos pais e mães que aguentam pagar três mil reais/mês para oferecer o que tem de melhor aos seus pimpolhos. A propósito, a única escola pública no Ceará que realmente forma cidadãos competitivos no mercado de trabalho global vem sendo, historicamente, o Colégio Militar de Fortaleza, principal fornecedor da moçada talentosa de passe “comprado” pelos “clubes” privados, os quais se constituem apenas em passagem subsidiada para as melhores escolas da nação, dentre estas ITA, IME, AMAM e tantas outras. Como retorno sobre os investimentos, essas escolas estampam a foto sorridente dessa meninada de muito valor em páginas inteiras dos periódicos locais e, com isso, acariciam o ego e a esperança dos papais e mamães que deixam e buscam seus pimpolhos, a bordo de seus bólidos, nos muros impecáveis da nossa Aldeota. Registre-se que esses garotos passariam, de qualquer forma, nos exigentes testes de seleção dessas Escolas pelo simples fato deles serem muito estudiosos e focados. E para quem quer e estuda o mundo abre as portas.

Mas voltemos a tentar entender o real contexto da suposta qualidade do ensino publico do Ceará, enquanto mostruário do Nordeste. Alguns educadores afirmam que o motivo da separação litigiosa acontecida entre essa “boa” educação e os índices de qualidade de vida da população reside no fato de que escolas não educam, mas apenas ensinam algumas matérias. Quem educa e disciplina são os pais e mães, cabendo as escolas ensinarem a ler, a escrever e, óbvio, matemática, português, redação, física, química, biologia & Cia. Ltda. Desta forma, seria plausível admitir que é o ambiente doméstico o acionista majoritário do atraso social? Seriam os jovens e crianças vítimas de famílias desestruturadas, sem pai ou sem mãe, ou sem os dois, que vivem em habitações muito pobres de bairros violentos e sem infraestrutura que estariam empurrando nosso futuro para um fosso profundo? Perguntas com respostas, de variadas matizes.

Em um mundo cada vez mais integrado, tecnológico, real time e em que a Inteligência Artificial já é a realidade disruptiva mais desconcertante até então, quais as chances da juventude cearense  saída de escolas do Brasil situadas nos municípios de Pires Ferreira, Massapê, Ararendá, Milhã e Mucambo conseguirem romper suas realidades sociais caso permaneça na rede pública de ensino? Qual o percentual delas que conseguirá chegar a melhor escola pública do Ceará e a sexta melhor do Brasil, falo do Colégio Militar de Fortaleza, e deste ao apogeu profissional? Sem fluência em inglês, espanhol, etc. e sem saber operar o pacote Office, dentre outros, aonde esse povo bom e alegre vai arrumar emprego? Na Grendene de Sobral ou no cortiço do velho Chico? Talvez uma boquinha em campanhas ou nas franjas do dinheiro público.

O que esperar dessa educação pública em que a pedra angular dela, os professores,  estão vivendo mais nas periferias que em bairros nobres? Como uma professora pode ganhar três ou quatro mil reais para enfrentar o hercúleo desafio de se capacitar, preparar aulas, corrigir provas e, inacreditável, encarar salas de aulas repletas de periculosidade? Como? Sim, nossos professores deveriam ganhar também por insalubridade. O fato é que, com esse gogó todo do Ceará, já emplacamos dois ministros dessa “boa” Educação no Brasil. Sendo assim, o futuro que tenha paciência e nos aguarde que estamos muito preocupados, não com a fórmula do sucesso, mas sim com a equação da embromação.

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Allan aguiar

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