Chegamos ao Ponto Critico. Um novo tempo. Um novo capitulo no livro da humanidade é o que estamos escrevendo. Não porque queremos, mas porque alguém, o Controlador, assim o quis. Novas crenças e valores estão, neste momento, sendo formatadas, e novas condutas serão inauguradas. Novas visões do mundo, das pessoas e das coisas estarão, doravante, na maioria dos relacionamentos. Não porque esse Vírus é o mais mortal dentre todos os que os seres humanos já enfrentaram em sua história, mas por ser ele o Vírus mortal mais democrático que já apareceu. As guerras, a violência e outras pestes mataram muitos mais humanos que esse COVID19 pode vir a matar.
Caso o Vírus tivesse ficado adstrito apenas à China, ou em parte da Ásia, a mobilização da humanidade não seria capaz de transformar muita coisa na vida da maioria dos humanos. Estaríamos apenas com o medo de que chegasse até nós, como foi o Ebola lá na pobre África. Neste caso, assistimos apenas algumas notícias preocupantes nesse ou naquele noticiário. Não era problema nosso e nossas vidas não sofreram qualquer alteração de curso ou de rotina. Os contaminados e os mortos eram um povo distante, que recebia de nós apenas a torcida de que tudo fosse debelado por lá mesmo. Mas, agora, a coisa é bem diferente.
O mundo ocidental rico e próspero sentiu o golpe que começou na histórica Itália, passou pela bela Espanha e derrubou também a maravilhosa França. A partir daí todos sabem a trajetória do bicho que agora atacou os USA por Nova York, causando baixas bem maiores que o covarde 11 de setembro. O bicho ameaçador acionou o medo em todos, e este medo acionou o instinto de preservação que todos os animais possuem. Para salvar minha vida e a da minha família, eu fico em casa porque estão dizendo que, se eu sair, poderei pegar o vírus e morrer. Enquanto se desenrola a quarentena, um novo software se instala nos seres humanos superavitários – imensa minoria – atentos de que seus patrimônios de nada valem diante dos riscos de perder a vida, e que o mundo em isolamento doméstico, o chamado mundo delivery, é preço suportável para evitar esse risco. Na ponta da imensa maioria, a dos seres humanos deficitários, outro software bem diferente, está em download: o instinto da coragem de arriscar sobreviver, presidido pelo pensamento de que é preciso ganhar dinheiro para garantir alimentos para a família. Em países e regiões pobres, essa maioria pode desempatar esse jogo. A fome sempre desempata a favor dela, de um jeito lícito ou não. A fricção estará na falta de convergência entre esses dois sistemas. Os superavitários não circulam mais como antes e os deficitários colapsam. Simples.
O software do medo de contaminação, por este e por outros vírus, estará incorporado às novas condutas, e estas vão ditar as novas regras da economia. Todos de máscaras para sempre. Se o presencial perder muito espaço para o virtual, como se espera no the day after da Coronacrise, fácil prever que parte expressiva dos postos de trabalho não produzirá renda para o sustento dos muitos milhões, que hoje vivem nas franjas da atividade econômica.
Estamos diante de uma nova sociedade. De uma nova quadra. De uma nova era deste mesmo mundo em que vivemos. Perguntas muitas e respostas poucas serão a tônica doravante, pelo simples fato de que essa situação de calamidade e emergência pode nos levar a duras constatações quanto ao novo futuro que começamos a redesenhar. Otimismo e pessimismo são estados de espírito. Os primeiros são mais agradáveis e os segundos menos. Mas entre eles temos os realistas que preferem observar fatos e dados.
Desta vez não foi um meteoro que alterou a gravidade da terra, alterando o reino animal, mas sim um novo vírus mutante que estará sempre em mutação pregando peças como esta que estamos a atravessar. Afora os ditames científicos e consequências sociais nefastas, o mundo que vivemos acabou. Estamos no verdadeiro Ponto de Mutação, como escreveu Fritjop Capra 38 anos atrás, da história da humanidade, para o bem e para o mau.
