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PRECISAMOS DE UMA NOVA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO

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Por MARCOS C. HOLANDA,

Professor UFC, Fundador IPECE, Ex-Presidente BNB

Estratégias de desenvolvimento devem ser avaliadas pelas suas capacidades
de melhorarem a vida dos cidadãos. Se a economia não chegar nas pessoas
não existe desenvolvimento. Nesse sentido, quatro indicadores se destacam. O PIB, que mede o fluxo de renda gerado na economia, a taxa de desemprego, que mede a parcela da população que não consegue ocupação, o valor real dos
rendimentos, que mede o poder de compra dos trabalhadores e a desigualdade,
que mede o diferencial de rendimentos entre os extratos da população ocupada.


O grande objetivo de uma estratégia de desenvolvimento é gerar mais
crescimento econômico, mais empregos, melhores salários e menos desigualdade.


Nessa linha de análise as estratégias de desenvolvimento implantadas no Ceará
nos últimos anos não foram satisfatórias. De 2012 a 2019, não considerando,
portanto, os dois últimos anos de pandemia, o crescimento médio do PIB foi de
1,12% aa, inferior ao crescimento da população, o desemprego aumentou,
passando de 7,3% para 10,3%ii e o rendimento real médio dos trabalhadores
passou de R$ 1.624 para R$ 1.827iii. Esse pequeno aumento (1,5% aa), acoberta, no entanto, um dado assustador: se olharmos o rendimento médio per-
capita verificaremos que, nesse período, enquanto os rendimentos dos 10% mais pobres caiu 2,7% aqueles dos 1% mais ricos subiu 42,0%iv. Em 2019, o
rendimento médio per-capita dos 1% mais ricos foi de R$14.001,00 enquanto que aquele dos 10% mais pobres foi de R$ 73,00. Três milhões de cearenses
vivem na extrema pobreza ganhando menos de R$89,00 por mês. Em resumo, exceto para uma minoria de privilegiados, o estado ficou mais pobre e mais desigual.


Em uma perspectiva de tempo mais longa identificamos três grandes estratégias
de desenvolvimento no estado. A primeira foi baseada na oferta de incentivos
fiscais para atração de indústrias. Ela foi positiva no seu objetivo de atrair
investimentos, principalmente nos setores de calcados e têxtil e conseguiu gerar
empregos, principalmente no interior, apesar de quase todos de baixos salários.
É fato, porém, que ela foi se exaurindo e não conseguiu mudar a dinâmica da
nossa economia.


A segunda estratégia foi baseada na construção do Porto do Pecém e na atração
de grandes indústrias de base como uma siderúrgica e uma refinaria. A siderúrgica veio e a refinaria continua uma promessa. A realidade é que esse
tipo de estratégia funcionava a cem anos atrás, hoje ela é desconectada da
economia do século XXI.


Por último surge a estratégia das energias verdes que acerta na direção, mas
erra na lógica de tornar o estado um grande exportador de hidrogênio verde, que
tecnologicamente é uma realidade, mas economicamente é ainda uma
promessa distante. Assim como a refinaria e a siderúrgica foram no passado, o
hidrogênio virou a bala de prata do presente. Não vai funcionar.


Infelizmente, se olharmos as experiências internacionais verificaremos que
nenhum pais foi capaz de aumentar o bem-estar de sua população e se
desenvolver baseando sua estratégia na atração de indústrias de baixo valor
agregado e baixos salários, ou no desenvolvimento de um porto exportador,
principalmente quando os insumos são na maioria importados. Estamos no
século XXI, a economia não é mais física ou analógica é cada vez mais virtual e
digital.


Apenas para dar um contexto, o Porto de Roterdã, que sedia siderúrgica e
refinaria e que é, no mínimo, 20 vezes maior que o Pecém impacta o PIB da
Holanda em apenas 6%. Aqui vale o alerta que já fiz: não confundir faturamento
de um empreendimento com PIB. Seria o mesmo que confundir faturamento com
lucro. A siderúrgica está aí operando a pleno vapor, infelizmente de carvão, mas
o propalado salto do PIB não aconteceu.


Por outro lado, para dar ao leitor a nova perspectiva da economia do século XXI,
o Pecém foi valorizado em 1 Bilhão de reais, quando o estado vendeu uma
participação de 30% ao próprio porto de Roterdã. Já a Brisanet, uma empresa
cearense com sede em Pereiro e que bem representa a nova economia, foi
valorizada em 6 bilhões de reais no momento de sua oferta pública de ações.
Não posso afirmar mas suspeito que o impacto da Brisanet no PIB do estado é
maior que o da siderúrgica.


Surge aqui a questão. Existiria uma estratégia de desenvolvimento alternativa e
diferente para o estado? A resposta é sim. Ela seria baseada em dois insumos
que o mundo hoje procura de forma agressiva e que o Ceará tem em
abundancia: jovens de talentos e bens e serviços verdes. Teria como lógica
principal não o fazer ou produzir e sim o criar. Não o tamanho do faturamento
mais o valor agregado no estado. Não a economia analógica e cinza e sim a
economia digital e verde.


Para explorar o nosso insumo mais valioso precisamos de uma estratégia de
atração e retenção de jovens talentosos. Temos que acabar com o absurdo de
continuar a exportar nossas mentes brilhantes. Ninguém melhor que nossos
jovens para inovar, criar novos negócios, gerar novas riquezas, agregar valor no
estado. A nova economia é digital e criativa, é aquela que funde a indústria com
o serviço, é aquela que é movida pela competição e não pelos privilégios do
governo é aquela que vale pelo tamanho do capital humano e não do capital fisico.

Muda a lógica do desenvolvimento. Em vez de atrair empresas para atrair
empregos vamos atrair pessoas de talentos, pois elas vão atrair as empresas.
Mais importante que ofertar ambiente de negócio atrativo temos que ofertar
qualidade de vida atrativa.


Precisamos, portanto, de uma estratégia que ofereça infraestrutura competitiva
para jovens inovadores, incentivos fiscais para as pessoas e não apenas para
as empresas, salários competitivos para pesquisadores de ponta, institutos de
tecnologias aplicadas, universidades mais conectadas ao mercado, capital
financeiro de risco, menos burocracia, mais inserção internacional, cidades mais
seguras e atrativas.
Recente trabalho da Escola Nacional de Administração Pública (Índice de
Cidades Empreendedoras), que constrói um ranking das 100 cidades mais
empreendedoras do Brasil coloca Fortaleza na incomoda 33ª posição. No item
inovação Fortaleza fica na posição 56ª e em capital humano na 68ª. Isso tem
que mudar.
Precisamos sim de dinheiro público e, o mais importante, uma decisão política
inequívoca de colocar a inovação como o motor da economia. Em um estado
com orçamento anual superior a 30 bilhões de reais não cabe o argumento que
não existem recursos.


Na economia verde precisamos evitar a estratégia errada de exportar energia
verde e adotar a estratégia de exportar produtos e serviços verdes. A lógica é
sempre de agregar valor. Se podemos exportar aço verde, fertilizante verde,
turismo verde, habitação verde, alimento verde, etc, para que exportar energia
verde na forma de hidrogênio?


Sem negar e desmerecer o Ceará econômico do passado, aquele do polo
calçadista, do polo têxtil, da siderúrgica, da refinaria, precisamos acordar para o
Ceará do futuro. Esse Ceará é aquele da Brisanet, do Hap Vida, do Arco
Educação, da Pague Menos, da Casa dos Ventos, da Unifor. Um Ceará que
inova, que cria novos negócios, que é líder.


Inovação é a arte de arriscar, de não continuar a fazer o mesmo, de ter ambição.
Chegou a hora de uma nova estratégia de desenvolvimento para construir um
Ceará inovador e próspero.

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