2019 amanheceu com o Ceará, e sua capital Fortaleza, expostos internacionalmente pelos ataques que apavoraram seus habitantes e derreteu por completo a nossa já pífia imagem turística. Fomos desaconselhados pelos governos de Portugal e USA, nações que alertaram seus cidadãos para os riscos de circular nesta terra de Alencar. Na hierarquia dos vexames, conseguimos ocupar a presidência dos absurdos.
Perdemos onze frequências semanais de voos
internacionais com a despedida da CONDOR, COPA, AVIANCA e com a suspensão dos
voos da GOL para a
Flórida. Perdemos também um voo da Air France/KLM, mesmo pagando 20 milhões/ano
para as aéreas manterem um HUB político. Assistimos a TAP anunciar novas
frequências para outras capitais do Nordeste e manter a redução de uma
frequência semanal entre Lisboa e Fortaleza. A circulação de turistas
internacionais no Ceará estagnou por completo, não obstante a movimentação de
passageiros em conexão no aeroporto ter crescido. Hoje, o Estado conta com um
fluxo turístico internacional semelhante ao da década passada. Perdemos também
todos, sim todos, os voos charters (fretamento) internacionais para Fortaleza.
Nenhuma solução para o nosso esqueleto de Aquário, para o terminal de passageiros fantasmas do porto do Mucuripe, para os mamutes CFO e aeroporto de Aracati, assim como a monumental ociosidade do CEC – Centro de (e)Ventos do Ceará. Em 2019 adicionamos ao acervo de descalabros as ruinas da ponte metálica, farol do mucuripe e os escombros da praia de Iracema, da Monsenhor Tabosa e do polo gastronômico da Varjota. A praia do futuro continua aguardando o seu prórpio futuro e o presente continua esperando as PPP`s, a roda gigante e o único resort 7 estrelas do mundo.
Em 2019, atônitos, assistimos o próprio governo do Estado alertar investidores internacionais para os riscos de aqui investir. Assistimos também muitos dos que já investiram toparem vender seus empreendimentos e partirem. Assistimos à consolidação do declínio de ícones turísticos do Estado como Canoa Quebrada e o início da banalização de Jericoacoara, vendida na hora da xepa da feira de pacotes turísticos em 12 vezes sem juros. Até a duna do pôr do sol ficou nanica, em face do maltrato com o ecossistema local.
Neste ambiente, 2019 não trouxe qualquer novo hotel para Fortaleza, que vem mantendo seus níveis estagnados de taxa de ocupação hoteleira da década passada, onde a falta de incremento da demanda empurra o aparecimento da oferta para algum lugar de um futuro cada vez mais incerto. Sem cenário de aumento de demanda, a oferta não se apresenta. Para complicar a sustentabilidade da hotelaria, 2019 estreou a explosão das estadias através de aplicativos como o AIRBNB. O turismo do Ceará vive, há anos, sua síndrome de Gabriela: “eu nasci assim/eu cresci assim/eu sou mesmo assim/vou ser sempre assim”.
Porém, nem tudo foi aridez no turismo cearense. Coube a alemã FRAPORT construir um oásis neste deserto, representado pelo novo e moderno terminal de passageiros do aeroporto de Fortaleza, encerrando uma novela mexicana que se arrastava quando era um aeroporto estatal.
Por fim, como se não bastassem as barbeiragens próprias dos cabeças-chatas, tinha “óleo no meio do caminho/no meio do caminho tinha óleo” que melou, no anoitecer de 2019, o maior ativo turístico do Nordeste do Brasil.
Voa 2019, nas asas do “pavão mysteriozo e o do pássaro formoso, onde tudo é mistério/nesse teu voar”…. voe para longe do povo pobre do meu Ceará.
