O Leão miou, afundou e reservou seu lugar na classe econômica do futebol brasileiro. Acostumado há sete anos a voar na primeira classe, onde as poltronas-casulos e o serviço de bordo reservam experiências viciantes, terá agora que aparar a juba, cerrar os dentes e se apertar nos minúsculos assentos perto dos banheiros da cauda desse avião. Óbvio, a torcida, decepcionada, revoltada e querendo consequências para os responsáveis por tamanha desonra, protesta na forma que a educação e cultura cearense determinam. Xingamentos, vaias, insultos e até pedradas na porta da Arena Castelão, palco maior da medíocre campanha do time neste 2025.
Abstraindo as violentas emoções da torcida aborrecida, cabe tentar entender as causas do desastre e as manobras que levaram o comandante Marcelo Paz a derrubar o sólido Laion para os porões do futebol nacional. O que revelam as gravações da caixa-preta sobre o diálogo na cabine de comando? Não será difícil esclarecer as enormes barbeiragens gestorias, afinal o Laion caiu, mas a tripulação sobreviveu para contar suas versões. Mas resta claro que esse acidente já vinha se desenhando desde o final da excelente temporada 2024, em que a performance foi histórica. Mas, como ventos passados não movem moinho e cabe aos museus viverem de memórias, o fato é que a baixa qualidade do elenco formado sintetiza, junto com a falta de liderança, unidade, harmonia e garra, o caos dentro e fora de campo. Traduzindo, faltou gestão e sobraram falsas expectativas quanto à real força da equipe.
Como em “casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão”, Marcelo sem Paz, o CEO gentleman, tratou logo de se autoproclamar sabotado, rasgou a polidez e passou a usar as redes sociais para atacar todos aqueles que reclamaram da pífia performance dele, que resultou no inexorável rebaixamento. Bastidores do PICI foram jogados no ventilador da torcida que, perplexa, pode constatar e reafirmar suas convicções de que o Laion não passa de instrumento de política partidária para ajudar na eleição seguinte. Na troca de farpas, a torcida furiosa descobriu também que está endividada e pendurada com boletos a pagar que chegam à bagatela de R$ 100.000.000,00 (CEM MILHÕES de reais). Mas isso, segundo Marcelo Paz & Guerra, não é problema em face da robustez dos ativos do clube, cuja liquidez se desconhece, e de que todo clube tem dívidas. Justificativa temerária para analistas financeiros.
O fato é que o maior ativo da SAF Fortaleza foi pulverizado no rebaixamento. A Série A do Brasileirão era seu maior e mais líquido ativo. Era dinheiro na veia do clube, receita corrente e recorrente que permitiu bancar esse sonho que acaba após esses sete anos. O enredo, doravante, todos já conhecem: achar uma nova estrutura de custos, se livrar das sucatas adquiridas no mercado secundário de chuteiras, trocar a malograda gestão da SAF e trabalhar muito na segundona para tentar voltar, algum dia, à elite do futebol brasileiro. Sendo assim, o “animus estrebuchante” do ainda CEO do Gaion, Marcelo Guerra, entrincheirado no Post of Command (PC) lá do PICI, em nada ajudará o time a sair da completa zona em que se encontra. Futebol hoje é um grande business, bilhões de dólares tilintando no caixa e torcidas eletrizadas. O tempo dos cartolas imexíveis e donos dos clubes acabou. “Perdeu, mané, não amola!”


