A nossa Fortaleza não para de sentir os impactos, em suas muralhas, dos ataques que ameaçam a qualidade de vida e a tranquilidade dos habitantes privilegiados que ainda vivem dentro do Forte. A diminuta turma da Aldeota, do Meireles e demais bairros nobres que vivem no interior da Fortaleza e, portanto, protegidos pela espessa e alta muralha urbana que os separa da imensa e pobre maioria que sobrevive fora das muralhas, nos guetos da perigosa e precária periferia, não conseguem mais ignorar a encrenca social que ameaça esmagar o “campo de força” que protege os moradores da Miami existente no nosso muito desigual mosaico social. São centenas dentro da infraestruturada muralha e milhões fora dela, tocando a vida alegremente na precariedade pública da segurança, desemprego, esgoto, saúde, educação, creches, transportes, etc.
Em quase todos os rankings que classificam a qualidade de vida, as infraestruturas e o ambiente de negócios das grandes cidades do país e do mundo, nossa Fortaleza figura nas últimas posições, raramente aparecendo em posições de destaque. Seja no coeficiente de Gini, nos monitores de violência, de renda per capita, de IDH, do Doing Business, de endemias, etc., nossa capital revela toda a sua fragilidade e desigualdade.
Espera-se que Fortaleza saiba que não tem chances de gerar postos de trabalho apostando na indústria e na agricultura. Esses setores da economia não têm como nos ajudar a criar as ocupações capazes de erradicar o flagelo da sub-renda e sub-cidadania, insumos da precarização e desumanização dos espaços urbanos. A ociosidade é filha do desemprego e mãe do vício que assola nossos jovens cada vez mais sem perspectivas, cujo mostruário pode ser visto, em seu estado mais degradado, dormindo ao relento e do lado de fora da muralha que outrora pertencia ao coração da Fortaleza: a Praça do Ferreira, já enfavelada, fétida e largada a própria sorte.
Enquanto novas obras de mobilidade e de urbanização da orla marítima são
tocadas na cidade, paradoxalmente, aumenta a degradação social desses mesmos
espaços. A pobreza alastrada pela perambulância trata de inviabilizar todo o
obrismo que o sofrido orçamento público patrocina. Essas intervenções são os
exemplos que os sociólogos utilizam para demolir a tese dos urbanistas
obristas, também rotulados de turma do hardware que esqueceu o software.
Enquanto a troca do calçamento e da calçada da Beira Mar da Fortaleza avança à
margem esquerda do riacho Maceió, o mesmo espaço já reformado, à margem
direita, degringolou. O recém reformado mercado do peixe continua a mesma zorra
social, agora de roupa nova. Assim também como a “nova” Monsenhor Tabosa, que
virou cemitério de lojas, a já batiza de “Nova Feira-Mar” da Fortaleza promete
ser ponto de aglomeração de toda a informalidade econômica que virou regra na
economia que prospera e devora os formais.
Ficando cada vez mais famosa pela ausência de indicadores positivos e, pasmem,
desaconselhada por Nações estrangeiras preocupadas com seus cidadãos, como
Portugal e USA, seguimos aqui dotando as muralhas da Fortaleza de muita
maquiagem e perfumaria enquanto não conseguimos implementar trabalhos sociais
profundos e resgatar a ordem e o progresso municipal.
Assim, enquanto as velas do Mucuripe saem para pescar, o Farol virou ruina, a
Ponte dos Ingleses está caindo aos pedaços e a Praia de Iracema virou nossa
Sodoma e Gomorra que tem nos escombros do Aquário e do então Hotel Iracema
Plaza os grandes ícones da gestão do Turismo da Fortaleza sitiada. E olhem que
essa Fortaleza vive quase que exclusivamente do setor de serviços e comércio,
portanto, cada vez mais turístico dependentes.