O Ceará queria ser a São Paulo do Nordeste quando poderia ter sido uma Flórida brasileira. O Ceará queria ser a mutação perfeita entre os “tigres asiáticos” e o “vale do silício”. O Governo do Ceará queria indústrias e programou a bússola do modelo de desenvolvimento econômico do Estado para este objetivo majoritário. Sabe aquele filho que você quer que seja médico, mas a vocação dele é para a música? É mais ou menos isso o que o papai Governo tenta desde o século passado, sem sucesso.
Sem os saltos prometidos em campanhas eleitorais, o Estado continua patinando nos 2% da economia nacional e teima em uma estratégia pouco lúcida e muito caduca para gerar renda para sua população, insistentemente pobre. Mesmo com todas as induções e isenções do Governo do Ceará a participação da Indústria no PIB do Estado recuou, não atingindo hoje sequer 20% de participação no referido PIB. Somos ridículos 1,8% da Indústria nacional e, até agora, nada de Montadoras e muito menos refinaria. Sequer água temos para o agronegócio.
Longe dos mercados consumidores e com enormes deficiências em sua logística de
transportes e infraestruturas de escoamento marítimo, rodoviário e aéreo,
sobrou a surrada guerra fiscal e os incentivos locacionais como únicas armas
nessa luta para gerar postos de trabalho pelo viés da industrialização do
Estado, tarefa essa bem mais dificultada pela modernização/automação dos
processos produtivos. Adicionando esses complicadores, Estados vizinhos como
Pernambuco e Maranhão ganharam enorme espaço na disputa da movimentação de
cargas com seus Portos de SUAPE e ITAQUI, respectivamente o quinto e o sétimo
maiores do Brasil. Nosso PECÉM, ainda imberbe, ocupa uma modesta posição no
ranking nacional e busca um parceiro forte para turbinar e aparecer.
Na “guerra de foice” gerada pela falta de planejamento econômico e sem saber
ajustar a bússola, o Governo do Estado abraçou qualquer atividade econômica,
até mesmo as predatórias de suas próprias vocações naturais. O Exemplo mais
frustrante dos efeitos nocivos pode ser visualizado ao longo dos 573 Km de
litoral, transformados em verdadeiro paliteiro de aerogeradores, os quais
esterilizam extensas faixas de costa altamente vocacionada para o petróleo
cearense ainda não extraído: o Turismo. Esses parques eólicos praianos nada
geram de empregos e quase nada de impostos municipais e estaduais.
Enquanto o Estado queria indústria de transformação, os investidores privados
só tinham olhos para a Indústria do Turismo, a mais inclusiva atividade
econômica existente. Sobrevoavam nossas praias e vislumbravam um novo Caribe na
esquina tropical da América do Sul. Somente em 1995 o Estado acordou do sonho
único e criou a Secretaria de Turismo objetivando oferecer algum contorno de
ordenamento dessa atividade e uma agenda mínima capaz de colocar o Ceará no
jogo dos Destinos Turísticos.
Contudo, notadamente na última década, abdicou de uma gestão profissional e técnica capaz de emular com os agentes econômicos do mercado turístico e com investidores e preferiu entregar a pasta para políticos preocupados com as próximas eleições e não com as próximas gerações.
Assim, enquanto o Turismo sangra no prejuízo e os investidores se afastam da
litigante e violenta Terra da Luz, estamos longe de ser uma São Paulo das
indústrias e mais distante ainda de virar uma Flórida dos turistas
endinheirados, tudo em face da miopia dos gestores e planejadores do Estado que
pelo visto imporão os mesmos 2% de importância econômica do Ceará, diante do
Brasil, em 2027…2037…quando então estaremos mortos.
Afinal, como cantou nosso mais sensível poeta, que partiu há pouco, “o passado
é uma roupa que não nos serve mais” e “precisamos todos rejuvenescer”.