Os números do balanço do turismo cearense de 2024 apontam com clareza para a consolidação do nosso destino turístico em patamares muito modestos em relação ao seu potencial e bem atrás da performance da concorrência, representada pelos maiores estados do nordeste do Brasil e pelos fortes incrementos da atividade em estados como Alagoas e Paraiba. Os agregados turísticos têm, como um dos principais modais aferidor do dinamismo do setor, os números revelados pelas gestoras aeroportuárias. Ou seja, a movimentação total de passageiros e aeronaves nos terminais dos aeroportos, a representatividade das conexões, nas quais os usuários sequer saem do aeroporto, ou se são efetivamente turistas que vão circular e fazer rodar a cadeia produtiva do segmento.
Neste quesito, os dados operacionais das administradoras dos principais aeroportos da região apontam que Fortaleza teve uma movimentação total, até outubro passado (último mês disponível) de 5.101.231 passageiros, contra Recife com 7.956.408 e Salvador com 6.619.726. Difícil, no passado, imaginar o aeroporto do Recife colocar uma dianteira de quase 2,9 milhões de passageiros sobre a capital cearense e 1,3 milhões sobre a capital dos baianos. Uma comparação de 2024 com 2019 (antes dos efeitos da pandemia sobre a indústria do turismo) apontam que Fortaleza perdeu cerca de 14% de sua movimentação de passageiros, não recuperando os patamares pré-pandemia. Quanto a 2023, a FRAPORT aponta um total de 5,56 milhões de passageiros em Fortaleza. Recife, que contabilizou em 2019 algo como 8,8 milhões de chegadas e partidas, conseguiu em 2023 pouco mais de 9,0 milhões e neste 2024, até novembro, já acumula 8.740.581 passageiros voados. Estima-se que o aeroporto dos pernambucanos poderá superar os 9,5 milhões de passageiros movimentados, se consolidando, com folga, como o maior aeroporto do Nordeste. Olhando para Salvador, com seus 7,8 milhões em 2023, 8,04 milhões em 2019 e 6,19 milhões até OUT/24, deverá também não superar suas marcas pré-pandemia.
No que se refere aos fluxos de embarques e desembarques internacionais, que em Fortaleza alcança 345.702 até outubro do corrente ano e representa apenas 6,8% do fluxo total (um dos menores níveis da série histórica), releva destacar que em 2019 foi de 472.185 (Jan a Out) e representou cerca de 8% do mesmo fluxo total (nacional + internacional). Sendo assim, os números explicitam toda a precariedade da gestão do turismo estadual, que vem perdendo expressivos espaços para outros destinos da região. Cabe olhar também para os números do aeroporto de Maceió e João Pessoa que, mesmo menores, vêm observando consistente tendência anual de crescimento dos seus fluxos de passageiros. João Pessoa, com a chegada de muitos resorts e hotéis em seu recém estruturado Polo Turístico de Cabo Branco e Maceió, também com novos voos da TAP e excelentes equipamentos turísticos inaugurados prometem mudar o eixo do desenvolvimento turístico do Nordeste do Brasil. Novos hotéis, mais voos nacionais e internacionais resulta sempre em mais turistas, renda e inclusão social para as comunidades locais.
Por fim, outro indicador que vem merecendo atenção crescente dos analistas e estruturadores de produtos e destinos turísticos são as pesquisas de buscas divulgadas por plataformas gigantes do mundo do turismo.com. Operadoras do mundo digital, como a Booking, revelam tendências de viagens para diversas estações do ano, não obstante serem garantia de chegadas efetivas de turistas. Hoje, antes de decidir qual o destino a ser escolhido, o consumidor de viagens procura realizar pesquisas que aumentem as chances de sucesso na experiência. A recente pesquisa da Booking também não traz boas notícias para o turismo cearenses que aparece muito mal posicionado. Sendo assim, os balanços anuais dos últimos exercícios revelam que os prejuízos estão se acumulando e que o Ceará não consegue mais ser competitivo junto aos mercados emissores de turistas para o Nordeste, segundo algumas operadoras que comercializam pacotes turísticos para vários destinos da região.
No setor privado balanços no vermelho significam troca de comando e de rumos empresariais, mas no setor público não significa absolutamente nada e os responsáveis seguem suas vidas sem pressões. E vida que segue.