AVIÕES, PÃO E POESIA

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AVIÕES, PÃO E POESIA

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Fausto Nilo escreveu e cantou que “felicidade é uma cidade pequenina/é uma casinha, é uma colina/qualquer lugar que se ilumina/quando a gente quer amar/”. Pura e bela poesia do nosso múltiplo talento, seja na música, na arquitetura e no urbanismo. Por óbvio, essa cidade pequenina não tem 4 milhões de pessoas, aeroportos, portos, shoppings, estádios, favelas, trânsito caótico, assaltos, etc. Também resta claro que essa cidade não é Fortaleza e sua complexa região metropolitana. Mas o poeta está certo quando sugere que a felicidade urbana não se apresenta nessas metrópoles brasileiras, que o tempo e seus péssimos marcos legais de ordenamento trataram de afastar a felicidade cantada.

As coisas vão acontecendo ao longo das décadas no ritmo do crescimento da população, a qual pressiona por serviços e equipamentos urbanos. Por exemplo, Fausto Nilo ainda não tinha nascido lá em Quixeramobim quando nasceu nos anos 30 no Alto da Balança, em Fortaleza, a pista embrião do aeroporto batizado de Pinto Martins, nosso aviador pioneiro nascido em Camocim. Nesses mais de 90 anos do nosso aeroporto, a cidade tratou de se aproximar dele, cercá-lo e criar um bairro inteiro e denso. Acharam pouco e chamaram esse bairro de Aerolândia, uma deferência e reverência ao protagonista daquela cena urbana: os aviões. Registre-se que esse fenômeno evolutivo acontece também com portos, além de aeroportos ao redor do mundo. A cidade invadiu e engoliu o aeroporto e não o contrário.

Cabeça de poeta competente é uma coisa linda, quando produz sensibilidade que embala nossa alma. Quando o poeta é arquiteto e urbanista, então alinham-se os planetas da criação e, muitas vezes, de viagens fantásticas na imaginação do espaço-tempo. Vamos buscar um plano diretor que atenue 299 anos de gambiarras urbanas e que lance a pedra fundamental da cidade que queremos para nossos filhos e netos. A mais perfeita possível. Vamos, como fez Juscelino Kubitschek, chamar Oscar Niemeyer e Lúcio Costa para desenhar e construir uma cidade novinha em folha. Se chamará Brasília e não terá um porto, óbvio, mas sim um enorme aeroporto. Coloca o aeroporto bem distante e faz uma rodovia duplicada até ele. Nesse caso, o poeta Fausto já era nascido, e eu também. Sabem o que aconteceu lá nesses 60 anos? Isso mesmo!


Brilhante, a ideia do poeta de transferir nosso sítio aeroportuário para Caucaia é teoricamente correta, urbanisticamente interessante e conceitualmente consistente. Mas, na prática, é totalmente INVIÁVEL do ponto de vista econômico/financeiro, mercadológico, técnico, operacional e até turístico. Essa ideia foi implementada em Natal/RN com um novíssimo aeroporto no vizinho município de São Gonçalo/RN, o qual foi um fracasso retumbante. Foi o maior desperdício de dinheiro público que os potiguares já assistiram. Desativaram as operações comerciais do aeroporto Augusto Severo, em Parnamirim, construído pelos americanos no tempo da Segunda Guerra e com uma das melhores pistas de pouso do Brasil, e transferiram para o hoje aeroporto Aluizio Alves, localizado na Caucaia deles. Parnamirim virou museu que ninguém vai e depósito de sucatas aéreas da FAB. Coisa de político pródigo com dinheiro público e de urbanistas que adoram viajar na maionese de algumas teses acadêmicas. Outros exemplos mundo afora, de aeroportos inseridos no tecido urbano, provam as dificuldades de operacionalizar e viabilizar tamanha intervenção urbana.

Atenção, cérebros brilhantes da terra de Alencar, que tal deixar a FRAPORT em paz, gerindo profissionalmente nosso aeroporto, coisa que nunca conseguimos quando estava conosco, e cuidarmos, aí sim, de reurbanizar a área do porto do Mucuripe, transferir para o Pecém toda a movimentação de cargas e a absurda e inflamável tancagem do Cais do Porto? Como fizeram muitas cidades mundo afora, como Lisboa, Gênova, Barcelona, Rio e, ainda em obras, Recife.

Quem sabe, com isso “as velas do Mucuripe/vão sair para pescar/vou levar as minhas mágoas/
Pras águas fundas do mar/hoje à noite, namorar/sem ter medo da saudade/e sem vontade de casar. Eita! Deu uma saudade do Belchior.

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