Elmano já não governa mais, pelo menos para uns 50% dos cearenses. Prover segurança pública é atribuição precípua dos governos estaduais. O aparelho policial a eles está submetido. Atacar o ambiente criminógeno é papel central dos governadores e suas estruturas. Garantir a vida e o patrimônio das pessoas deveria ser, na hierarquia das prioridades do governador, a tarefa mais intensa e enérgica, afinal, sem segurança nada pode prosperar. Sendo assim, o Ceará faliu e Elmano virou uma nulidade completa quanto à capacidade de alcançar os objetivos de sua agenda prioritária.
Se esquivando de sua responsabilidade direta sobre as chagas abertas da insegurança pública, Elmano adota a tática do avestruz ao afirmar que a violência não é só problema do Ceará, mas sim do Brasil. Ignora que a bala mata quase três vezes mais no Ceará do que em Santa Catarina, mais de duas vezes que em São Paulo e que até o Rio de Janeiro, matriz do crime organizado, é bem mais seguro que o Ceará. Sobre o colo de Elmano estão anos de leniência e incompetência de seus antecessores que preferiram a perfumaria e a maquiagem em um paciente que já exigia intervenção cirúrgica profunda para evitar a proliferação e prosperidade da economia do crime. Ao invés de profilaxia séria e radical, optaram por coisas para inglês ver, como, por exemplo, o famigerado “Ronda do Quarteirão”.
O conjunto da obra desses que nos governam são os índices indecentes de mortes matadas que assombram os cidadãos e submetem comerciantes, e até donos de espetinhos, a terem que financiar e arredondar com o estado paralelo para que possam manter seus negócios funcionando e não serem executados. Se no Brasil, segundo a pesquisa recente publicada na Cambridge University Press, 26% dos brasileiros estão submetidos à chamada “Governança Criminal”, imaginemos se existisse uma pesquisa idêntica que aferisse apenas o Ceará. Qual seria o percentual de cearenses que vivem em territórios dominados pelas facções? Perto de 50%, se obedecermos à proporcionalidade dos números da violência do Ceará em relação ao Brasil.
Portanto, é plausível admitir que Elmano só atua para cerca de 50% da população do Estado, ficando os outros 50% sob “os cuidados” das estruturas do crime organizado, diante de um Estado cada vez mais desarrumado. 100% pagam impostos, mas apenas 50% estão, em tese, sob os cuidados do Estado Democrático de Direito. Os outros 50% já estão sob a tutela do Estado Paralelo dos Esquerdos. 100% dos que podem votam, mas apenas 50% é governado por quem foi votado. Mas isso também vem mudando de forma acelerada. Muitos dos eleitos, segundo a própria polícia, também são oriundos do enorme submundo do crime no Ceará.
Sendo assim, o Ceará segue como sendo o Estado que possui a maior frota proporcional de carros blindados do Brasil, agora adicionada pelos novos veículos da Polícia Militar, também blindados por Elmano, óbvio com dinheiro público, para proteger a vida de quem protege a nossa, nossos policiais, que não param de levar bala nas esquinas das periferias cearenses. E o povo, que não consegue se blindar, faz o quê? Aumenta a Reza?
