Vida louca vida/vida breve/já que eu não posso te levar/quero que você me leve.
Sim, a prioridade sempre será salvar vidas em face de qualquer outra prioridade. A vida se impõe, sempre. Quem se opõe a esse encaminhamento está errado. Qualquer Governador treme diante da opinião de um Secretário de Saúde do calibre e qualidade do Dr. Cabeto, médico admirável sob todos os aspectos, e estrela mais brilhante do seu secretariado. A ciência manda, a OMS pede, o Ministério da Saúde orienta, Dr. Cabeto recomenda, enfim, quem sou eu para dizer que não deve fechar tudo? Prefiro pecar por excesso que por omissão, principalmente quando milhares de vidas podem ser perdidas, caso esse COVID19 tome conta do Ceará. Assim, prepara o Decreto e publica. Eis a decisão medicamente correta, sem dúvida.
A ficha das consequências do isolamento foi caindo paulatinamente com o passar dos dias e outra questão humanitária, igualmente avassaladora, começou a eclodir e, como o COVID19, asfixiar os mais pobres pelo viés da quebradeira dos mais ricos. Em um Estado pobre e com seu setor privado modesto, e que opera historicamente com níveis de liquidez muito baixo e uma gigantesca informalidade, o decreto do “fique em casa” desencadeou outro pânico: desemprego e fome. O leão faminto da economia começou a rugir alto e emparedou o Camilo, que piscou para a flexibilização diante das pressões das lives da vida; mas, cedeu diante do destaque do Ceará no ranking nacional dos Estados que mais preocupam no cenário nacional. Mandetta vaticinou que, caso vivesse no Ceará, estaria bem preocupado com sua existência, e isso também serviu de pá de cal nas pretensões das lideranças empresariais chamadas, por certo político, de “barões da morte”. Já pensou, que coisa! Assim, Mandetta e Cabeto seguraram a “Escolha de Camilo” que balança ao ver o que se passa, no que tange a mortes by COVID19 mundo afora.
Não existe diferença na vida que pulsa nas veias de um Cearense, ou qualquer outro Nordestino, diante de um Nova Iorquino, Californiano, Romano, Milanês, Madrileno ou Catalão. Somos igualmente humanos e precisamos, desesperadamente, viver. Uma vida cidadã. Uma vida plena. A diferença estrutural está na gravidade do The Day After dessa história toda. Eles estão em estágio social e econômico muito mais avançado do que nós e, assim, possuem capacidade de assimilar os duríssimos golpes econômicos, abaixo da linha da cintura, que estão sendo desferidos todos os dias contra os agentes econômicos dessas economias mais evoluídas. A capacidade de socorro dos governos de lá é bem diferente da nossa. O que se vê nesta fase, claramente, é a ansiedade do político A endereçar ao político B os desgastes eleitorais dessa tragédia humanitária que golpeia pelos dois lados, e que os colocaram todos em clinch e nas cordas.
No caso do Ceará o jogo está jogado, o estrago já está posto e vai reverberar por um tempo bem mais longo que a média dessas economias europeias e norte americanas. Esses povos já ressurgiram de cinzas de guerras mundiais. Muito sangue já foi derramado por lá e Plano Marshall de soerguimento de um continente inteiro foi implementado. O software da superação deles é mais avançado que o nosso. Uma coisa é entrar e sair de um desastre sanitário desses com todas as suas robustas infraestruturas físicas e sociais funcionando. O motor deles vai de 0 a 100 em um ano? E o nosso? Não vale invocar Euclides da Cunha neste momento, afirmando que “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Exigir isso dos cearenses não é razoável. No nosso caso, cabe outro pensamento que diz: “para quem não sabe nadar, tanto faz a piscina ter 2 ou 5 metros”. Para muitos negócios o timing já era; e voltar já não é mais possível pelo fato da falta de oxigênio (grana) e do novo mercado que não albergará mais seus negócios. Haja Delivery e Live para ocupar esses milhões lançados no desemprego pelo Corona.
Sabemos que nunca fomos competentes na gestão de investimentos em saúde, segurança e infraestruturas. Preferimos torrar nosso sofrido dinheirinho público em Aquários, Tatuzões e mamutes como o CFO e CEC, além de outras festas do arromba. Não obstante o otimismo que deve permear nossos pensamentos, junto com a fé e a esperança, o fato é que o Ceará recebeu agora uma superfatura de cartão de crédito social, que terá que ser parcelada a juros escorchantes. No nosso caso precisamos muito mais de um Plano Marshall que do natimorto Plano Ceará Veloz, que pegou a COVID19 e faleceu.
Serão anos até voltamos a ser pobres novamente. E tudo passará, pela escolha de Camilo que, como no romance, terá que optar por duas alternativas igualmente insuportáveis. De qualquer sorte, Camilo já está na história do Ceará. Resta apenas saber se será lembrado pelo que fez ou pelo que não fez. Em momentos trágicos como esse, e diante de uma longa trilha de refundação do Ceará, aonde vivemos, sempre cabe entender os conselhos do Marquês de Alorna a D. José I após o terrível terremoto de 1755, que arrasou Lisboa: “sepultar os mortos; cuidar dos vivos; fechar os portos”. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!