A elite da burocracia decidiu que é um fim em si mesma, e não um meio. Que ela se basta no drama que aflige o contexto social e econômico deste Estado. Alguns cérebros que se nutrem, há décadas, do quarto Estado mais pobre da Nação acreditam piamente que são capazes de reverter o atraso crônico deste belo pedaço de terra com novos planos, projetos e planejamentos. Ela acredita que fabricar e empacotar Planos de Desenvolvimento é o suficiente para atrair e viabilizar investimentos privados e, consequentemente, crescimento econômico. Se dependesse da quantidade de edições de Planos de Desenvolvimentos o Ceará seria uma Califórnia, com vale do silício e tudo.
O primeiro Plano mais organizado coube ao então Governador Virgílio Távora com o seu PLAMEG – Plano de Metas Governamentais, na década de sessenta do século passado. Elaborado majoritariamente por técnicos do BNB e SUDENE, o Ceará buscava viabilizar-se enquanto sociedade que oferece o básico que o conceito de cidadania recomenda para uma população. Desde então, algumas infraestruturas foram construídas, como portos, aeroportos e rodovias, mas sem viabilizar o grande objetivo de atenuar a pobreza. Óbvio, enquanto a locomotiva do mundo era a indústria, algumas fábricas se instalaram no jogo da guerra fiscal. Hoje o mundo é da tecnologia, da conexão e dos serviços, setores que não encontram no Ceará um habitat que possa ser classificado como diferenciadamente competitivo. O passar das décadas exigiam correções de rumo, mas o que se viam eram montanhas de novos Planos com velhas ideias.
A energia e dinheiro público, 1,6 milhões, desperdiçados nessa nova viagem na maionese do Governo do Estado, que vem mais uma vez com pregações como “antigos e novos clusters, novo marco regulatório, desburocratização”, deveria ser canalizada para resolver cada uma das situações de entraves que a própria burocracia cria, organicamente, para dificultar a vida das empresas que já existem, afastando a possibilidade de quaisquer novas decisões relevantes de investimentos. Como falou um empresário estrangeiro que ousou abrir um negócio aqui: “bem que o próprio governo alertou. Eu sou o culpado”. Ou seja, enquanto esses homens não vestirem a roupa de facilitadores e levantarem seus músculos da cadeira para resolver cada uma das situações que ameaçam o investimento, o Ceará continuará empurrando seu futuro para 2040, 2050 e fazendo a cada ano um Plano qualquer.
Ou se usa a autoridade para ajudar a desentupir os canos enferrujados por que passa o capital até a produção do bem ou serviço almejado ou não tem Plano que resolva. Sendo o problema do Ceará a escassez de fazimento diante da fartura do planejamento, chegamos ao ponto que tem mais gente, e bem remunerada, elucubrando que gente, no prejuízo, empreendendo. Pode, Freud? Com nossos indicadores sociais em estado de miséria e nosso PIB per capita de padrão africano, seria bom esses cérebros começarem a elaborar uma espécie de Plano Marshall, aquele implementado pelos aliados para soerguer a Europa após a violência e destruição dos ataques da segunda guerra. Até lá, de semelhança com a Califórnia teremos apenas o fato que ambos os Estado começam com C e terminam com A, e olha que eles tiveram Arnold Schwarzenegger, um exterminador do futuro aposentado, como governador.