O alinhamento de dois planetas municipais estão a desmontar nossas chances de ver o Turismo ser capaz de resgatar nosso povo da pobreza. O primeiro deles é político e o segundo é mercadológico. No “DNA” do mercado está o lucro econômico como principal objetivo. Já no “DNA” da política deveria estar o lucro social advindo das políticas públicas, produzindo o progresso pelo viés do emprego, renda e cidadania. Este último é pura teoria.
Poucos sabem ao certo quais deles é o responsável pelas seguidas demolições de hotéis na beira-mar de Fortaleza. No caso em tela não cabe debater quem veio primeiro, o ovo ou a galinha. As decisões de Roberto Cláudio e Sarto ou a força do mercado? O mercado navega buscando maximizar receitas e resultados observando os marcos legais originados da simbiose “Roberto Sarto”.
Neste sentido, nem eles, quando assumiram 12 anos atrás, imaginaram o tamanho do dano irreparável que suas administrações produziriam na principal vocação econômica de Fortaleza. Serão sempre lembrados como os prefeitos que, deliberadamente ou não, colapsaram os alicerces do Turismo em nossa capital e, com isso, assumiram a coautoria do maior período de declínio da atividade no Ceará, em face da importância de Fortaleza como portão de entrada para os demais destinos turísticos do Estado. Apostaram, e perderam, que as obras de requalificações e embelezamento urbanos seriam capazes de ampliar a competitividade de Fortaleza junto aos mercados emissores de turistas e incrementar os postos de trabalho da enorme cadeia do setor. Basta olhar os agregados turísticos.
O erro imperdoável dos dois, focados na perfumaria e maquiagem dos principais corredores turísticos de Fortaleza, se revelou cruel para os principais polos da cidade. Aonde botaram a mão, digo, as máquinas da prefeitura, o resultado foi falência e fechamento. Os exemplos mais contundentes, até agora, de intervenções desastrosas para o turismo era a falida Monsenhor Tabosa e a tristonha Praia de Iracema. Agora é a pérola da coroa do turismo, a beira-mar, que apresenta sintomas claros de declínio.
O mercado imobiliário nada tem a ver com a demolição de hotéis. Está somente aproveitando as novas regras de uso e ocupação do solo da região e erguendo 30, 40 ou 50 andares em terrenos que a nova legislação municipal converteu em subaproveitados. Qualquer proprietário de ativos imobiliários performados antes das novas regras municipais estão fazendo contas e constatando que os hotéis rentabilizam muito menos que uma permuta de 40% ou 50% sobre o VGV (Valor Geral de Venda) de prédios naquela avenida. A decisão “estratégica” do Paço Municipal foi, portanto, priorizar o imobiliário e ignorar os efeitos sociais de tal decisão, nomeadamente junto aos milhares de permissionários, comerciantes e ambulantes que tentam ganhar a vida vendendo redes, castanhas e artesanatos para os Turistas que circulavam e conferiam a nossa beira-mar vibração e alegria turísticas. Nenhuma plataforma, tipo AIRBNB, será capaz de gerar fluxo na quantidade e qualidade que os hotéis da região conseguem e nem muito menos os que morem ou invistam nesses novos prédios.
Em mais alguns anos vamos assistir naquela orla, que é a cara da nossa cidade que reflete seu povo, seus costumes e sua cultura, poucos hotéis ainda na peleja e Fortaleza saudosa dos bons tempos em que tínhamos turistas ali animando nossa economia. Portanto, “ali jaz” os saudosos Esplanada Praia Hotel, o Ponta Mar, o Verde Vela, o Samburá e, em breve, mais alguns que estão na marca do pênalti. E olha que não falamos dos que desapareceram ou agonizam na praia de Iracema e em outros polos da cidade. Sem hotéis, sem turistas e sem turistas, sem hotéis. O duro é ver a orla de outras capitais nordestinas recebendo novos hotéis. Será que ninguém fará nada para evitar que viremos uma Recife, sem hotéis na beira-mar e com muitos tubarões na praia? Tubarões ainda não temos, nadando.