Não tem como levar a sério. Então, vamos lá que estamos no Ceará, terra do bom humor com pitadas de deboche.
Os três Mosqueteiros da Távola da Ponte Arriada finalmente deram as caras na Praia de Iracema para anunciar, não a reconstrução, mas sim o início da campanha eleitoral para prefeito da província de Fortaleza. O soerguimento da centenária, tombada e destruída Ponte dos Ingleses (Ponte Metálica) é apenas o pano de fundo para o duelo que s’Artagnan, como fiel escudeiro da Companhia dos Cavaleiros do Reino de Sobral, decidiu empreender contra o castelo inexpugnável do Príncipe da Barbalha, o qual já provou ser capaz de ser entronizado, pelo voto, no Império do Ceará. Nesse contexto s’Artagnan, mesmo sabendo que sua espada anda enferrujada e ele fora de forma, resolveu desembainhar sua lâmina e desafiar o establishmet que o elegeu. Para tanto convocou seus espadachins auxiliares, Alexus, Phercios e Aramistos para anunciar que sua paciência com o escárnio do Governo do Estado diante dos escombros da Ponte Metálica chegou ao fim, após cinco longos anos de obras paradas que a própria prefeitura comandada por ele esteve corresponsável.
Sim, anos após os seguidos tsunamis que varreram de vez a gestão pública do Estado que, dentre outros malfeitos, destruíram vários dos principais emblemas da cearensidade, eis que os Mosqueteiros presentes ao ato patético deram o grito da libertação; “já que o Reino da Barbalha não faz, o Reino de Sobral fará: um por todos e todos por nenhum”, dos eleitores. Foi assim que s’Artagnan apareceu para liderar o que ficará nos anais da história política como a “Revolta das Ruinas”. Sim, Fortaleza está em ruínas, físicas, econômicas, sociais e culturais. A Praia de Iracema, hoje também conhecida como a mais notória “Sodoma e Gomorra” urbana da capital foi destruída pela cruel inércia do poder público que permitiu a desordem e ainda desferiu o golpe de misericórdia no bairro que leva o nome da nossa virgem dos lábios de mel. Vivo fosse José de Alencar daria um cagaço nesses incompetentes inconscientes que passaram pelo Palácio do Bispo e estupraram a imagem da virgem dos cearenses.
O desarranjo social da Praia das praias da capital é maiúsculo. Indigência, drogas, prostituição e violência que fez correr de lá o então maior polo gastronômico da cidade e a sadia animação noturna do local. Quem não levou a família para almoçar ou jantar no Sobre o Mar, no La Bhoème, de Dona Ignêz, e no La Tratoria, do Seu Alfio? Quem não curtiu o Cais Bar e a segunda-feira mais animada do planeta que era no Pirata, do Júlio Trindade? Bairro de charme e tradição nossa Praia virou ambiente underground e repleto de escombros como o Aquário, a Ponte dos Ingleses, o edifício São Pedro, etc. Nem a turma de permissionários do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura aguentou a incompetência sistêmica do governo estadual e municipal. Até mesmo o Centro Cultural da poderosa CAIXA andou fechando as portas por um tempo. Também tombou o então magnífico hotel Blue Tree Premium e seus 23 andares de muito bom gosto, uma aposta de investidores alemães chegados na primeira década deste século.
Mas tudo tem o seu lado bom e com essa “Revolta das Ruinas”, comandada pelo Soberano de Sobral, não é diferente. Parece que Fortaleza só evolui quando as gestões estadual e municipal são antagônicas. Quando Tasso sonhava em tirar Juraci Magalhães do comando da província e este tirar o Tasso do comando da capitania hereditária as coisas eram bem melhores para os habitantes da cidade que, sábios, elegiam quem o “Doutor Juraci” quisesse e vice- versa. Sendo assim, que essa arenga prospere muito e faça os Mosqueteiros se insurgirem também em favor do igualmente arruinado Farol do Mucuripe, dentre tantos outros prédios históricos vitimados pela insensatez governamental.
*Artigo é um tributo a Dona Maria da Luz, que ganhava a vida vendendo tapiocas na Ponte Metálica.