Existe uma correlação forte entre resignação e instrução. É uma correlação inversamente proporcional. A imensa maioria da população do Ceará possui baixa instrução, em face da pífia educação, característica que favorece a resignação ante a precarização de sua própria condição de cidadania. A baixíssima renda média dos cearenses ajuda também a extrair a capacidade dessa sociedade de se indignar diante das migalhas que o governo é capaz de oferecer em forma de serviços públicos e de ambiente propicio ao desenvolvimento econômico.
Por outro lado, nosso Estado está repleto dos semicultos, que, segundo a filósofa alemã Hannah Arendt, são os filisteus da cultura que “como falam pelos cotovelos, conquistam os ignorantes para a adesão da informação errada”. Alguém consegue ligar esta característica a alguma figura exótica do anedotário político cearense?
Assim, restaram os escassíssimos cultos e, dentre estes, os independentes que não admitem sair da sua zona de conforto para expor de maneira franca seus pensamentos sobre os equívocos que empurraram o Ceará para o desfiladeiro social e econômico que tomou conta do Estado. Por outro lado, algumas importantes lideranças da intelectualidade e da produção do Estado também demonstram pouco apetite em debater abertamente, e sem rodeios, os indicadores da gestão pública que o Ceará vem experimentado nesses últimos anos marcados por resultados pífios e cinzentos.
Com cada vez mais raras exceções, quase ninguém quer mais emprestar seu nome para ocupar posições na administração pública em face de toda a lama que corre no esgoto da atividade e revelada pelas semanais operações da polícia Federal e do Ministério Público Federal. Por mais correto e descente que se possa ser sempre se corre o risco de ver seu nome envolvido em escândalos protagonizados por eventuais superiores ou inferiores hierárquicos desonestos. Assim, é visível o declínio da capacidade gerencial do setor público. Os bons querem distância.
Quando se fica muitos anos no governo as pessoas tendem a ficarem um tanto quanto alienadas pelo excesso de elogios e puxa-saquismos e em face da ausência de debates técnicos, profundos e qualificados sobre os resultados dessa ou daquela política pública implementada e sem qualquer efeito benéfico.
Aonde estão os verdadeiros homens e mulheres esclarecidos e independentes do Ceará? É urgente o aparecimento de uma nova e qualificada geração de formadores de opinião que não dependam desse ou daquele contrato com os governos e tenham plena isenção e liberdade para criticar ou elogiar abertamente os resultados expressados nos indicadores sociais e agregados econômicos. Só assim vamos viabilizar um contrapeso ao bordão imortalizado pelo personagem do prefeito Odorico Paraguaçu, corrupto e demagogo: “a ignorância é que atravanca o progresso”.
